8.4.07










Ah, esses deuses.
Devem estar em desuso
Nem de viés os vejo
Devem estar por vir

Ah, esses deuses.
De diversos dizeres
Desistiram da vida
Dá um vazio de dar dó

Ah, esses deuses.
Vagando por várias vendas
De pé por louvor à moeda
A venda por valor de vela

Ah, esses deuses.
Desses de vida dura
Desses de dor nos dentes
Desses de pedir trocados

Ah, esses deuses.
Desses de vida vaga
Desses de dentes d´ouro
Desses de dezenas de dólares

Ah, sim, esses deuses!
Têm venda nas ventas
Ouvidos vedados
e vento na voz.

23.1.07











Quem é você atrás dessa barba?
Que que cê faz pra pagar essa roupa?
Por que cê acha que isso é um fardo?
Por que não se enfarta e acaba essa porra?


O que cê esconde no bar da tua casa?
O que cê procura atrás desse copo?
Por que cê gasta seu troco no jogo?
Por que se casou e ainda tem esse oco?

Que que te deixa tão triste?
Qual lágrima espelha em seu olho?
Por que cê espera um milagre?
Por que se lamuria esse tanto?


O que vai ser de verdade?
Qual é seu real motivo?
Por que essa veia ainda verte?
Por que seu desejo está vivo?

Pra que cê fez esse filho?
E o que faz dele um ídolo?
Por que cê quer ser um ídolo?
Por que não enfrenta o vazio?

Pra que cê insiste em ser forte?
Por que cê troça da sorte?
Pra que sua cabeça só pensa?
Por que cê se prensa à beça?
Por que não começa algo novo?
Por que não vive de novo?
Morrer é ter certeza.

2.10.05



Feche os olhos.
O vento veio lhe falar
Vou sentir pelos poros
Vou dançar só pra mim
E me esvair aos poucos
Vou tatear o outro
Pra me encontrar lá dentro
E vou seguir beeem lento
E vou servir!
Vou servir!

Vou me despir de tudo
E renascer em segundos
Vou me despedir do velho mundo
E abraçar o futuro
Com abraço humano!
Abraço humano!

Queremos ver luz nos olhos
Num olhar de cúmplices
Num silêncio perfeito
Como um desfecho de filme

E vamos nos unir
Pra viver como um
Abra os olhos!

22.9.05

Hoje, nunca mais quero te ver
Não quero sentir seu beijo
Nem receber seu olhar

Não quero sua mão na minha
Nem pernas nas pernas
Nem mãos nos ombros
Como se fosse minha protetora

Não quero um carinho a cada suspiro
Nem cara de quem me conhece há tempos
Não quero discutir sobre a lua
Nem um silêncio de cúmplices

Hoje, nunca mais quero ouvir apelido bobo
Nem um elogio que escapa
Nem conselho que se esvai

Não quero ser lembrado de estalo,
No meio do dia, como se
Estivéssemos pensando na mesma coisa

Não quero te ligar por nada
Só pra saber se está sorrindo
Quero rir da minha piada
Quero chorar sozinho
Hoje.

31.8.05








Às vezes tem romantismo na Carne ... normal.




A lua agora é minha aliada.
É cheia ... de amor
Eu a admiro agora ... ao mesmo tempo que você.
E ela te faz presente.

Fazemos neste instante um trio amoroso.
Ela me diz o reflexo do seu rosto.
Diminuindo o tempo e a distância
a meros espectadores.

Eu retruco com gosto ...
Lhe envio um sorriso
Cheio e brilhante como a lua
Nossa aliada.

16.8.05


Sêo Zé pegou seu pesqueiro e partiu
Nem sol se via, era pouco da manhã
Sêo Zé levava farinha pra quatro dias
Beijou a mulher e se benzeu

Kurt já voltava da festa
Rosado da pinga e do sol
Levava a morena pra pousada
Pra pousar até o entardecer

E o pesqueiro seguiu no breu
Pelo caminho que já era seu
Foi chegar no alto do mar
Que se encontra com o baixo do céu

E o sol que veio já se ia
E Kurt na cama se esguia
Se põe rumo à praia mais bela
Do tamanho de sua quantia

Sêo Zé preparou a rede
Atirando no mar com boa fé
E retirou cheia de peixes e esperança
Pensou nos filhos e em seu amor

Kurt pagou e se foi
E já planejava outra vinda
Outra leva de vida boa
Do gole do mar ao banho de pinga

Mas a água de noite se virou
E virou o barco pescador
Jogou Sêo Zé ao mar gigante
Do tamanho da sua coragem

E outra família ficou a chorar
As lágrimas do mar azul
Com areia fofa nos olhos
Com a fome forte do sol
Com o coração tão duro e belo
Quanto o muro de coqueiros

5.8.05



Certo dia dormi e não acordei.

Foi a melhor noite que eu já tive.
Entrei no meu melhor vestido, me pintei como uma boneca e sai.
Fui voando ver meus amigos. Todos aqueles que tinha muita saudade.
Todos mesmo. Não faltou nenhum.

Me fiz de criança, corri na grama e até joguei bola.
Enfiei o dedo no bolo antes de todos e chorei quando meu peixe morreu.
Fechei a cara no primeiro dia de escola, mas depois acostumei.
Tive dor de crescimento, chorei, namorei, briguei, fui ao cinema.
Casei, vi muita criança entrar no mundo. Vi também muita gente sair.
Tive tanto amigo que encheria uma cidade.
Recebi elogios e críticas. Retribui. Rezei. Muito.

Depois de tanta prosa, me pus pra casa. Meus parentes me faziam festa.
Nem era meu aniversário pensei. Mas tudo bem, disseram que celebravam a vida.
E eu abracei um por um. Aquele abraço quente que a gente ganha sem motivo.
Pois é, foi assim.

E, um por um, me contaram em que momento eu mudei a sua vida.
E eu ria, e retrucava à altura. Falava que tudo o que eu era, era graças a ele.
Ouvi diversas estórias. De doces preferidos, de manias, de irmãos, de filhos, de brigas, de segredos – ah, e como tinha dessas!, de bebês bem-vindos, de bebês, de animaizinhos enterrados, de rosas vermelhas, de natais gloriosos e outros nem tanto.

Depois de tanto, eu percebi. Percebi que era imortal. Eu era imortal!
Simplesmente porque amei e fui amada.
Então eu fui.
Me sentia tão leve que voei.
E vi que meu último dia não foi um ritual de morte.
Foi uma celebração à vida.
Aos que eu amei. Aos que me amaram.
Aos que amam. Viva à vida.