31.8.05








Às vezes tem romantismo na Carne ... normal.




A lua agora é minha aliada.
É cheia ... de amor
Eu a admiro agora ... ao mesmo tempo que você.
E ela te faz presente.

Fazemos neste instante um trio amoroso.
Ela me diz o reflexo do seu rosto.
Diminuindo o tempo e a distância
a meros espectadores.

Eu retruco com gosto ...
Lhe envio um sorriso
Cheio e brilhante como a lua
Nossa aliada.

16.8.05


Sêo Zé pegou seu pesqueiro e partiu
Nem sol se via, era pouco da manhã
Sêo Zé levava farinha pra quatro dias
Beijou a mulher e se benzeu

Kurt já voltava da festa
Rosado da pinga e do sol
Levava a morena pra pousada
Pra pousar até o entardecer

E o pesqueiro seguiu no breu
Pelo caminho que já era seu
Foi chegar no alto do mar
Que se encontra com o baixo do céu

E o sol que veio já se ia
E Kurt na cama se esguia
Se põe rumo à praia mais bela
Do tamanho de sua quantia

Sêo Zé preparou a rede
Atirando no mar com boa fé
E retirou cheia de peixes e esperança
Pensou nos filhos e em seu amor

Kurt pagou e se foi
E já planejava outra vinda
Outra leva de vida boa
Do gole do mar ao banho de pinga

Mas a água de noite se virou
E virou o barco pescador
Jogou Sêo Zé ao mar gigante
Do tamanho da sua coragem

E outra família ficou a chorar
As lágrimas do mar azul
Com areia fofa nos olhos
Com a fome forte do sol
Com o coração tão duro e belo
Quanto o muro de coqueiros

5.8.05



Certo dia dormi e não acordei.

Foi a melhor noite que eu já tive.
Entrei no meu melhor vestido, me pintei como uma boneca e sai.
Fui voando ver meus amigos. Todos aqueles que tinha muita saudade.
Todos mesmo. Não faltou nenhum.

Me fiz de criança, corri na grama e até joguei bola.
Enfiei o dedo no bolo antes de todos e chorei quando meu peixe morreu.
Fechei a cara no primeiro dia de escola, mas depois acostumei.
Tive dor de crescimento, chorei, namorei, briguei, fui ao cinema.
Casei, vi muita criança entrar no mundo. Vi também muita gente sair.
Tive tanto amigo que encheria uma cidade.
Recebi elogios e críticas. Retribui. Rezei. Muito.

Depois de tanta prosa, me pus pra casa. Meus parentes me faziam festa.
Nem era meu aniversário pensei. Mas tudo bem, disseram que celebravam a vida.
E eu abracei um por um. Aquele abraço quente que a gente ganha sem motivo.
Pois é, foi assim.

E, um por um, me contaram em que momento eu mudei a sua vida.
E eu ria, e retrucava à altura. Falava que tudo o que eu era, era graças a ele.
Ouvi diversas estórias. De doces preferidos, de manias, de irmãos, de filhos, de brigas, de segredos – ah, e como tinha dessas!, de bebês bem-vindos, de bebês, de animaizinhos enterrados, de rosas vermelhas, de natais gloriosos e outros nem tanto.

Depois de tanto, eu percebi. Percebi que era imortal. Eu era imortal!
Simplesmente porque amei e fui amada.
Então eu fui.
Me sentia tão leve que voei.
E vi que meu último dia não foi um ritual de morte.
Foi uma celebração à vida.
Aos que eu amei. Aos que me amaram.
Aos que amam. Viva à vida.

1.8.05








O tempo é cruel.

O futuro é instigante. Apreensivo. Glorioso.
Voa com o vento, esperando para ser capturado.
O futuro é etéreo. Sereno no breu.
Tão pequeno quanto este instante. Nasce morto.

O passado é foto. Rocha. Ruína.
Valor barato que se faz de tesouro.
O passado é pó. Alegria reciclada.
Tão pequeno quanto este instante. Morto está.

Viver é pensar que cada um destes instantes
vale a pena. É se equilibrar no irreal.

O futuro é tão grande quanto minha mente.
O passado é tão pequeno quanto meu corpo.
E o presente ... Tão cru e cruel quanto o tempo.

Tão certo quanto agora ...
agora ...
agora ...
agora ...
agora ...
agora ...
agora ...