5.8.05



Certo dia dormi e não acordei.

Foi a melhor noite que eu já tive.
Entrei no meu melhor vestido, me pintei como uma boneca e sai.
Fui voando ver meus amigos. Todos aqueles que tinha muita saudade.
Todos mesmo. Não faltou nenhum.

Me fiz de criança, corri na grama e até joguei bola.
Enfiei o dedo no bolo antes de todos e chorei quando meu peixe morreu.
Fechei a cara no primeiro dia de escola, mas depois acostumei.
Tive dor de crescimento, chorei, namorei, briguei, fui ao cinema.
Casei, vi muita criança entrar no mundo. Vi também muita gente sair.
Tive tanto amigo que encheria uma cidade.
Recebi elogios e críticas. Retribui. Rezei. Muito.

Depois de tanta prosa, me pus pra casa. Meus parentes me faziam festa.
Nem era meu aniversário pensei. Mas tudo bem, disseram que celebravam a vida.
E eu abracei um por um. Aquele abraço quente que a gente ganha sem motivo.
Pois é, foi assim.

E, um por um, me contaram em que momento eu mudei a sua vida.
E eu ria, e retrucava à altura. Falava que tudo o que eu era, era graças a ele.
Ouvi diversas estórias. De doces preferidos, de manias, de irmãos, de filhos, de brigas, de segredos – ah, e como tinha dessas!, de bebês bem-vindos, de bebês, de animaizinhos enterrados, de rosas vermelhas, de natais gloriosos e outros nem tanto.

Depois de tanto, eu percebi. Percebi que era imortal. Eu era imortal!
Simplesmente porque amei e fui amada.
Então eu fui.
Me sentia tão leve que voei.
E vi que meu último dia não foi um ritual de morte.
Foi uma celebração à vida.
Aos que eu amei. Aos que me amaram.
Aos que amam. Viva à vida.

2 comentários:

Bianca Sabatino disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Bianca Sabatino disse...

Ti, vc está se superando, hein? Esse texto é lindíssimo. E faz refletir.

Adorei o recurso buarquiano de escrever no feminino. Parabéns!Keep writing !